Freando a Obesidade Infantil

Psicóloga de imagem comenta a atitude americana: Afastar as crianças de seus pais é a melhor solução para acabar com o excesso de peso, segundo lei americana.

A obesidade infantil nunca foi um assunto tão preocupante e comentado como está sendo esse ano. Segundo a última pesquisa do IBGE, uma em cada três crianças, entre cinco e nove anos, está obesa.

Nos EUA já existe – e é executada – uma lei que alega ser digno de perda de guarda se os pais tiverem filhos obesos. Na visão deles, a obesidade poderia ser evitada se os pais controlassem melhor a alimentação das crianças.

Com base nessas infinitas discussões, o programa da Rede Globo, Fantástico, exibiu no domingo passado (02/10) uma reportagem de debate sobre o tema.

            Segundo o professor de direito da UERJ Guilherme Calmon, a lei brasileira permite esse sistema. “O código civil brasileiro permite tanto a suspensão quanto a perda do que nós chamamos de poder familiar. E uma das hipóteses é exatamente o não cuidado, os maus tratos, o não criar qualquer tipo de limite em relação à alimentação deles, permitindo que chegue a esse extremo”, explicou o professor no programa da emissora Globo.

Mas será que a obesidade é sinônimo de maus tratos e falta de limites? Segundo a Psicóloga de Imagem, Marjorie Vicente, “A obesidade, assim como todos os tipos de transtornos alimentares, é apenas a pontinha do iceberg. Precisamos investigar o que está por trás do comportamento alimentar anormal e da dinâmica familiar envolvida nesta problemática.”

Dentro da psicologia nada se generaliza. A série de acontecimentos na vida de uma criança (associada a fatores genéticos e/ou predisponentes) pode levá-la a compulsão por comida, assim como em muitos casos leva à anorexia e bulimia. O contexto atual, pais que trabalham o dia inteiro, acaba facilitando o acesso livre da criança a qualquer tipo de alimento na casa. Se ela, por exemplo, está passando por momentos e situações complicadas com os amiguinhos na escola, uma das maneiras de “afogar” suas mágoas (mesmo que de forma inconsciente) é ingerindo doces ou comidas que a satisfaçam. Aliás, como a Marjorie Vicente alerta, quando há um transtorno real no comportamento alimentar, a saciedade não é mais decisiva para a criança parar de comer. Ela simplesmente “se empanturra”.

Se faz necessário refletir um pouco sobre a alimentação no contexto infância. A alimentação não possui apenas uma função nutritiva, mas também, uma função afetiva ao longo da vida. Especialmente, nos primeiros anos de vida. Os pais acabam respondendo muito a forma de se alimentar dos filhos, a alimentação é a primeira “moeda de troca” da criança. Quem já não presenciou uma mãe se descabelar diante da negação alimentar de um filho?

No lado oposto, alguns comportamentos acabam contribuindo para problemas posteriores relacionados ao excesso. Mães que alimentam o filho vendo televisão e respondem com o alimento quando a criança chora, acabam por ensinar uma maneira errada de reconhecimento e atenção. Pais que forçam a quantidade de comida podem levar a criança a não saber reconhecer mais a sua saciedade, e possibilitar mais tarde, o aparecimento da compulsão alimentar.

“Ainda assim, não acredito que afastar os filhos dos pais seja a melhor das hipóteses, acredito sim em um programa de educação destas famílias quanto a alimentação e as suas implicações, e também, um trabalho psicoterápico que aborde as motivações e fatores mantenedores destes comportamentos. Exceto em raras exceções, os pais querem o melhor para os filhos e estão em constante aprendizado deste papel social tão cheio de responsabilidades, incertezas e alegrias.” – finaliza Marjorie.

Fica para os pais algumas dicas:

– Não impor a comida através de ordens.

– Não exigir que “se limpe o prato” como era comum antigamente.

– Tornar a refeição um momento agradável e de “encontro” entre as pessoas que se amam, e não o momento de ver a novela, se alimentar em frente ao computador ou manter discussões frequentes a mesa.

– Não usar o alimento como prêmio ou castigo. Mais tarde esta criança pode se tornar um adulto que julga “merecer” comer um pedaço de bolo porque o dia foi difícil. E aí, o transtorno de compulsão alimentar periódica terá mais chances de se instalar.

– Uma dica que está sendo fonte de estudos para a psicóloga de imagem, Marjorie Vicente, é a terapia assistida por animais (especialmente cães). Nada como “o melhor amigo do homem” para estimular atividades físicas mais prazerosas e divertidas para as crianças, muito além da conhecida caminhada, os cães são treinados para saber brincar até de pega-pega e esconde-esconde. Além do aprendizado de todo o processo alimentar que pode ser proporcionado na interação: regularidade das refeições, quantidade adequada, alimento como combustível para o crescimento saudável e fonte de energia para as atividades diárias, entre outros.

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