Os P’s do Ser Mãe: preconceito e patologização

A Quarentena têm trazido à tona, em muitas Mães, a lembrança do Puerpério… o isolamento social remete a solidão dos primeiros meses da maternidade e a simbiose intensa da bolha “Mãe-bebê”. As crianças, de diferentes idades e demandas, estão em casa e o “Mamãe” com as suas variações: “Manhê, Mã, Mamãe, Mamma”, mais do que nunca, tornou-se obrigatório no inicio de cada frase. =)

O que me chama a atenção é que exatamente neste momento, têm se valorizado tanto o perfil da Mulher que é profissional, amante, amiga, filha, e não “somente Mãe” dentro do Universo Feminino, como se ser Mãe fosse pouca coisa e, contraditoriamente, excluísse todos os outros “títulos”.

A dicotomia reina mais absoluta do que nunca, entre o 8 e o 80, todos os tons de cinza são ignorados… na crise da saúde, na crise da política, e também, nos papéis que desempenhamos. Tenho visto nomes referências no Universo da Maternidade “patologizando” a mulher que escolhe ser “só Mãe”… dizendo que esta condição é usada de forma defensiva para fugir de um relacionamento fracassado com o marido e/ou de uma carreira mal sucedida. Quanto preconceito existe neste julgamento, quanta falta de empatia e quanta generalização. 

Quando nos fechamos ao óbvio, perdemos a oportunidade de explorar cada história em sua singularidade, ficamos no raso, no superficial… quantas mulheres são julgadas por terem condições financeira (privilegiada, é verdade) de mergulhar neste Universo Materno de cabeça, vivê-lo em 100% do seu tempo nos primeiros anos do seu filho e ter um prazer imenso em fazê-lo. Conto nos dedos quantas vezes ouvi relatos de elogio a este grupo, normalmente, a visão é de uma vida “fácil”, “vazia”, “patologizada”, “diminuída”, e até mesmo “fútil”… quanto preconceito enraizado… e o mais triste, não são julgamentos vindos unicamente do clube do Bolinha, muito pelo contrário. 

Viver a Maternidade intensamente por opção e privilégio não diminui as dores e os lutos envolvidos neste processo e não torna menos intenso o trabalho que não é remunerado (em cifrão como a sociedade valoriza), que não tem férias e que dura as exatas 24hs do seu dia.

Muitos com “boas intenções” vão dizer que o tempo passa rápido e que as crianças crescem na velocidade da luz… tudo verdade, especialmente quando são os filhos do vizinho (rs), porém, argumentos assim se valem da fragilidade para propagar insegurança, ao invés de, exatamente pelos mesmos motivos, valorizar a Mãe que pode e que escolhe desfrutar deste caminho, deixando-a livre para se voltar para os seus outros “eus” no seu próprio tempo e de forma genuína… pelo amor e não pelo medo. 

Em tempos de tanta polêmica e violência verbal nas redes sociais, quero deixar claro que não estou defendendo que “este perfil de Mãe” é superior ou “mais Mãe” do que as que maternam de outra forma por necessidade ou escolha. Só estou fazendo um convite a reflexão… ao respeito pelas escolhas… sem desdenho, sem julgamento raso ou patologização. 

Que as vivências em familia intensas da Quarentena possibilitem este novo olhar! E, sem desprezar a verdade de um clichê: somos metade da humanidade, e, a outra metade precisou de uma Mãe (com suas múltiplas possibilidades de exercer este papel) para estar aqui! =)

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