Psicologia e Moda!

Marjorie Vicente é psicóloga de imagem e está uma temporada em Nova York aprimorando seus estudos. A Camisa de Seda já se antecipou e foi bater um papo bem interessante com a psicóloga mais antenada em moda de nosso país.

Em setembro, ela é a nossa Mulher Camisa de Seda!

Marjorie, você é psicóloga e também apaixonada por moda, já atuou como consultora de imagem e, na parte clínica, estuda transtornos alimentares. Poderia contar-nos um pouco mais sobre a sua trajetória e seus projetos hojeM.V – Desde pequena sou apaixonada por Moda, do tipo que ainda crianca fazia a própria mala e separava roupas e acessórios por dia em diferentes “saquinhos” para organizar as viagens.
À medida que fui crescendo outra paixão tomou conta de mim, o comportamento humano, queria entender porque as pessoas agiam de determinada forma… Com 11 anos comprei o livro “decifrar pessoas” e fiquei encantada. A partir daí, o meu caminho estava definido: cursei Psicologia na PUC-Campinas de 2004 a 2008, experiência incrível! Morei sozinha pela primeira vez, e tive um grande amadurecimento pessoal e profissional. Paralelo à faculdade atuei como consultora de imagem para duplas sertanejas e apresentadores de TV. Neste momento comecei a unir as duas paixões e focar no que os artistas passavam para o publico com a imagem que exibiam. Me formei e trabalhei, em 2009, com imagem de marca, desenvolvendo campanhas de acordo com a psicologia do consumidor. Fui estudar consultoria de imagem na FIT em NYC em 2010, e neste momento senti falta de algo mais profundo voltado para a Psicologia. Então, na aula de Branding tambem na FIT-NYC, eu desenvolvi com o meu professor o conceito de Psicologia de Imagem, a união da Moda e da Psicologia na busca do equilíbrio entre imagem real e imagem desejada.

De volta ao Brasil, em 2011, me especializei em Transtornos Alimentares na Unifesp, iniciei atendimento clinico atuando com todo tipo de conflito de imagem (transtorno alimentar, transtorno dismórfico corporal, pré e pós de cirurgia plástica, obesidade, cirurgia bariátrica), e também, com imagem pessoal e imagem corporativa. No final deste mesmo ano fiz uma entrevista na NEDA (National Eating Disorders Association) em NYC e fui aprovada.

Em Janeiro de 2012 passei a fazer parte do grupo de pesquisa e atendimento em Transtorno Dismórfico Corporal do Ambulim (HC), coordenado pelo Dr. Taki Cordas, e em seguida, em Fevereiro mudei para a minha segunda temporada em NYC, desta vez atuando em transtorno alimentar. Foram 07 meses de atuação em programas de prevenção e educação de transtorno alimentar, além da formação em coach.

De volta ao Brasil, o meu grande projeto é mudar o nosso cenário nesta temática, expandir o conceito de educação e prevenção de TA, “advogar” em prol de campanhas publicitárias que favoreçam a auto-imagem positiva e ser uma parceira na busca do equilíbrio para todos que estão em conflito entre o que são e o que gostariam de ser.

Trinta segundos são realmente suficientes para formar uma impressão sobre uma pessoa no primeiro encontro?

M.V – De acordo com estudos, 30 segundos são suficientes para formar uma “primeira” impressão. Mas, eu sempre gosto de frisar que a imagem é construída dia após dia… de nada adianta “se fantasiar” para uma entrevista de emprego e não ter consistência desta imagem no cotidiano da vida corporativa.

Você criou o termo “psicologia da imagem”, o que ele significa exatamente?

M.V – Psicologia de Imagem é a união da Moda e da Psicologia na busca do equilíbrio entre imagem real e imagem desejada.

Quais os primeiros passos para quem busca o equilíbrio entre a imagem real e a imagem desejada?

M.V – Em Psicologia a frase básica é: “cada caso é um caso”. Mas, se eu tivesse que dar uma primeira dica para encontrar este equilíbrio seria se perguntar qual a real motivação para a mudança ou para a busca desta imagem que difere do que você enxerga ao se deparar com o espelho. Os transtornos relacionados à imagem são apenas a “pontinha do iceberg”, ha muito a ser explorado, e esta é a parte essencial do meu trabalho… atuar como uma parceira que aceita o seu cliente de forma incondicional, e congruente neste encontro e consegue se colocar do lugar do outro, enxergar o mundo pelos seus olhos, ou seja, ser empática!

Dentro da sua filosofia de trabalho você tem a imagem corporativa como algo muito além da roupa que será usada no dia da entrevista, como isso funciona?

M.V – Como dito acima, a entrevista é sim a grande chance de deixar uma boa primeira impressão, PORÉM, uma imagem deve ser construída no dia a dia. Por este motivo, nao acredito em imposição, e sim, em conscientização. O meu trabalho no mundo corporativo é feito o tempo todo com os colaboradores atuando de forma ativa, eles possuem espaço para questionar e sugerir… e de acordo com o meio de atuação, cultura e valores da empresa chegamos ao “dress code” adequado!

De que maneira a construção de uma boa imagem pode ajudar no crescimento profissional?

M.V – Vivemos a Era do Ser X Parecer, ou seja, de nada adianta um currículo recheado de preparação acadêmica e experiências profissionais, caso a imagem do colaborador não seja condizente com o mesmo. Para ter credibilidade no mundo de imagem em que vivemos, e importante que você “transpire” e “exale” a SUA MARCA, você precisa deixar impresso em cada detalhe quem você é, de onde veio e aonde quer chegar. Pode parecer pre-conceito sim, mas, basta pensar em qual imagem do profissional abaixo iríamos confiar para entregar os cuidados da nossa saúde, por exemplo:

Vivemos hoje cercadas por padrões utópicos de beleza, muitas vezes mulheres negligenciam a saúde e seu eu verdadeiro em prol de um estereótipo impossível. Qual o termômetro que devemos ter para saber quando passamos dos limites?

M.V – O meu termômetro são os limites do que e saudável. Não hé problema algum em se cuidar, muito pelo contrário, e super importante para a autoestima gostar de si mesmo, e dentre outras características que a compõem esta cuidar da aparência, o grande problema e quando em nome disto adotamos comportamentos que nos prejudicam e passamos a acreditar que o nosso valor esta apena atrelado a nossa imagem.

Mulheres especialmente tendem a se anular nas relações, colocando o companheiro, filhos e amizades e trabalho primeiro. Qual a ligação entre esse fator, auto-estima, e o modelo social imperante do que é a “mulher ideal”?

O que as mulheres buscam? E por que na era do “hiper” aumenta o sentimento de vazio existencial?

M.V – Acredito que mesmo com tantos direitos conquistados, as mulheres ainda buscam a aprovação alheia. Não há problema algum em querer ser admirada ou desejada, o perigo está na insatisfação constante e na necessidade do preenchimento de si através do que vem de fora. Não há dieta, cirurgia estética, cosméticos ou vestuário que devolvam à mulher a autoconfiança e o direito de ser ela mesma e de não buscar a todo minuto ser a modelo da capa da última revista lida!

Ter estilo é diferente de apenas seguir tendências. Tem a ver como auto-conhecimento e lifestyle, o primeiro está muito ligado a maturidade e aceitação. Como descobrir seu estilo?

M.V – Para descobrir o seu estilo, primeiro você precisa se conhecer como ser humano. Eu digo que o nosso vestuário é uma revelação constante e silenciosa da nossa identidade, e precisamos estar conscientes disto.

Vivemos a época da ditadura de uma beleza eternamente jovem. Entretanto o tempo passa, o corpo muda, as rugas chegam… O que você acha disso?

M.V – Tem uma frase que gosto muito que diz que “as rugas deveriam indicar apenas aonde os sorrisos estiveram (Mark Twain)”. Não é que eu seja completamente contra qualquer intervenção estética, a tecnologia está aí a nosso favor, mas, discordo de exageros ou dependências neste sentido… as marcas do seu corpo não podem ser mais importantes do que as experiências vivenciadas!

Houve uma explosão de blogs de moda, beleza e lifestyle nos últimos anos. Passeando entre os pontos positivos e negativos já é possível esboçar uma análise do impacto deles sobre os leitores e como eles têm influenciado a moda?

M.V – Acho muito bacana e positiva a democratização da Moda, a ideia de que hoje em dia tudo é para todos, tanto as informações quanto os produtos. Porém, acho importante ressaltar que a Moda precisa ser vista como fator homogêneo e também de diferenciação, e você precisa se encontrar em meio a isto tudo. Ilustrando um pouquinho isto, uma camisa branca, por exemplo, é possível para todas as pessoas, mas a combinação que você vai fazer com ela e os acessórios que irão complementa-la serão a sua marca, a sua identidade em meio a algo que pode ser tão comum. A minha dica é: “não seja uma vitima da Moda”, seja critico e adote o que de fato fizer sentido para você, afinal, não somos uma vitrine, somos protagonistas da vida real!

Vivemos a banalização do luxo. Palavras como chique, “look”, classe e elegante perderam o sentido… Onde estão os parâmetros destes conceitos?

M.V – Eu não gosto da ideia de “banalização” e sim de democratização. Como citei acima, não vejo problema no acesso “aberto” a termos, informações e produtos que antes eram restritos a um grupo específico, acho até positivo, afinal, você não pode ser mais ou menos por poder ter um relógio da marca X sendo original ou não. O grande barato disto tudo é se encontrar e ter a sua marca, algo que não está ligado às tendências ou estações, e sim, a autoimagem e ao auto-conceito!

Para você o que faz a mulher elegante?

M.V – Ser ela mesma e saber usar suas diferentes facetas a favor de cada situação especifica.

Do seu ponto vista o que significa chique?

M.V – Neste ponto, concordo plenamente com a Glorinha Kalil:

“O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.”

Há quem diga que a fisionomia que uma mulher carrega em seu semblante é mais importante do que a roupa que ela veste, você concorda?

M.V – Sem duvida, afinal o seu semblante vai denunciar de forma consciente ou não a sua relação consigo mesma, com o tempo, com a vida e com as experiências vividas!

Qual a dica que você dá antes de sairmos às compras?

M.V – Saber exatamente o que você precisa e o que lhe cai bem, a não ser que o intuito seja se divertir com as amigas, sem pressa… em uma tarde deliciosa.

Campanhas de conscientização da importância da boa alimentação, aliada a exercícios físicos, aparecem cada vez mais como fonte de um corpo verdadeiramente bonito – dentro do seu biótipo – e saudável. É o surgimento de uma contra-corrente?

M.V – Acredito que seja o resultado de uma corrente de “profissionais do bem”… ou seja, profissionais que de fato querem fazer a diferença real na vida de seus clientes/pacientes e não só “comercializar” a última formula mágica. Eu trabalho exatamente neste sentido, quero advogar a favor de campanhas publicitárias que promovam a autoimagem positiva, que não precisem te colocar “para baixo” para em seguida te oferecer uma solução parcelada em 25X. Não há segredo, somos o que fazemos repetidamente… uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos moderados e um sorriso no rosto valem mais do qualquer “dieta da lua”!!!

Ser mulher é…?

M.V – … Enxergar o mundo com a flexibilidade que te faça “compreender” sem “se perder”

Qual seu programa predileto no final de semana?

M.V – Águas de Lindoia com família, amigos e cachorros!

Qual seu signo?

M.V – Gêmeos

Melhor viagem?

M.V – Aquela que não acaba NUNCA, o autoconhecimento.

Um sonho?

M.V – Expandir o conceito de educação e prevenção de TA no meu pais, “advogar” em prol de campanhas publicitárias que favoreçam a autoimagem positiva e ser uma parceira na busca do equilíbrio para todos que estão em conflito entre o que são e o que gostariam de ser.

Com uma camisa de seda você…?

M.V – Me sinto leve e confortável para agir de acordo com os meus princípios, valores e objetivos de vida!

4 thoughts on “Psicologia e Moda!

  1. Joyce Constantini says:

    Olá. …primeiramente Parabéns pela entrevista. …vc não tem noção de como me ajudou e inspirou….queria muito conhecer mais do seu trabalho. ..

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