Foram exatos 55 dias sem sair de casa…
O quarto foi palco de sala de aula algumas vezes e a “turma da Mônica” ganhou nomes dos amigos que ela mais têm sentido falta…
Outras vezes, esta “miniatura de gente” pegava a mochila, ia para a porta da rua e dizia que estava indo para a escola…
E, muitas vezes, o meu coração ficou pequeno ao ter que responder: “Mamãe, por quê não podemos sair da casa?”
Ainda assim, o sofrimento dela não parecia ser o meu… eu conversava com amigas do Brasil e dizia o quanto o isolamento social não me era aterrorizante, já que há anos oito horas de vôo me separavam dos abraços que mais sinto falta no dia a dia… a estafa de dar conta de muita coisa (filhos, casa, trabalho, cachorros) “sem ajuda” que no Brasil estava causando tanto estranhamento, aqui sempre foi rotina… a sensação de agora sermos só nós, um por todos e todos por um em uma intensa convivência (me refiro ao núcleo familiar formado à partir do casamento) já era tão conhecida, vivida com tanta segurança que eu chegava a brincar que poderia viver desta maneira “este restinho de ano”…
Foi então que veio o convite da escola para uma espécie de “drive thru” de entrega de presente do dia das Mães e para as crianças matarem a saudade das professoras (a distância, é claro). Achei a idéia ótima… super animada, fiz o checklist da “diaper bag” de quem não usa mais diaper rs (roupa extra, penico portátil, máscara, luva, álcool em gel…) e bora lá! No caminho, fui explicando para Geo que não poderíamos descer do carro, e, de cinco em cinco minutos, ela perguntava: “mas, então, não tem amigos?”, “a escola já tá aberta?”, e completava com comentários como: “a Georgia vai comer tudo hoje na escola”, “a Georgia vai dormir na escola”… o que me mostrava claramente que as coisas estavam confusas na cabecinha dela, e, eu explicava tudo outra vez… o que eu não sabia, era que a surpresa maior seria minha.
E, como um despertador que te tira do estágio de sono mais profundo para a realidade em segundos, eu senti os meus olhos lacrimejarem, o coração apertar e uma necessidade de contato físico crescer quando me deparei com o que havia sido preparado para nós… ali estavam, de máscaras e luvas, as professoras e diretoras da escola da minha filha, nos entregando flores, cartões e donuts… e, como se eu estivesse fora do contexto, de fora observando a cena, eu me ouvia agradecendo e dizendo a cada uma delas o quanto estávamos saudosas… eu não me referia a saudade da escola pelo cansaço de todas as demandas que o isolamento nos impôs, ali eu me dei conta da falta que fazia algo que eu nem sabia que já tinha… parte dos tais abraços tão importantes do meu dia a dia! Que bom descobrir que se aqui eu não tenho a minha familia de origem e os amigos de infância, a Maternidade me deu a oportunidade de criar laços, encontrar na escola e em outras Mães que se tornaram grandes amigas, a rede de apoio que posso chamar de minha.
Obrigada pela lucidez Quarentena! Mal posso esperar pelos abraços que nunca mais vou deixar de dar!