“Negative Urgency”? Preciso saber o que é isto?

Mais do que saber o que o termo significa, é importante que você saiba no que ele implica! “Negative Urgency” pode ser entendido como a tendência para agir impulsivamente a fim de evitar emoções e sentimentos negativos. Crianças com alto nível de “negative urgency” possuem menor limiar de resiliência do que as demais, assim como menor capacidade de lidar com frustrações. Desta forma, são mais vulneráveis a desenvolver problemas físicos e psicológicos.

Um estudo conduzido por Carolyn M. Pearson, no Departamento de Psicologia da Universidade de Kentucky, relacionou puberdade precoce X “negative urgency” e compulsão alimentar. Pearson encontrou como resultado que quanto mais precocemente a criança se desenvolvesse em termos de puberdade, em especial no quinto ano (que seria equivalente ao quarto ano do ensino fundamental no Brasil), maiores eram as chances da compulsão alimentar aparecer como uma forma de “lidar” com a experiência sentida como negativa, ou seja, o se tornar diferente dos demais em aspectos corporais, estar pronta (o) para a vida sexual, deixar de ser menina (o) e se “tornar mulher (homem)” com apenas 10 anos de idade (faixa etária aproximada de crianças deste nível escolar). Outro achado importante do estudo, é que no primeiro ano da “middle school” (que seria o quinto ano do ensino fundamental no Brasil), estas mesmas crianças enfrentavam ainda altos níveis de “negative urgency” e aumento nos episódios de  compulsão alimentar.

Parece haver uma dificuldade mais acentuada nestas crianças em lidar com mudanças, em especial, quando concomitantes: mudanças corporais, problemática típica da transição infância-adolescência, e mudanças da “elementary school” para a “middle school” (equivalente a mudança da quarta para a quinta série do ensino fundamental no Brasil). Vocês podem estar se perguntando: “Ok, e o que eu faço com estas informações?”. Ainda, segundo Pearson, após o resultado deste estudo é possível, se avaliadas corretamente, “prever” quais crianças correm o risco de desenvolver algum problema relacionado a alimentação ainda na primeira fase do ensino fundamental, antes das pressões que virão com a mudança para a quinta série, e ajudá-las a lidar da melhor forma com este momento, tido como muito estressante e difícil para a maioria. Importante ressaltar que nos EUA, além da mudança de apenas um professor para vários que passam a ser responsáveis por cada matéria de forma independente, as crianças também mudam de sala a cada término de aula, não é o professor que circula, e sim os estudantes que devem levar os seus pertences de classe em classe à partir da “middle school”. Culturalmente, esta é uma transição importante e comparada ao estresse da transição do ensino fundamental para o ensino médio no Brasil.

Como psicóloga de imagem, e estudiosa de transtornos alimentares, quero alertar pais, cuidadores e educadores quanto a algumas ações que podem ser evitadas desde muito cedo. Com certeza, vocês já presenciaram ou já foram inclusive personagens de cenas em que sempre que a criança chora, lhe é oferecido alimento. É claro que nos primeiros meses de vida, fica difícil interpretar o que está acontecendo, é quase que parte do instinto maternal descobrir se o choro é porque a criança está com fome, está com alguma dor ou se precisa que a fralda seja trocada. Mas, é importante, ir ajudando a criança a identificar demandas e sentimentos, conforme, a mesma vai se desenvolvendo. Estar triste não é o mesmo que estar com fome, assim como não se lida com a frustração de perder o campeonato da escola comendo uma panela de brigadeiro, é importante fazer estas distinções.

Lembrando que enquanto adultos, os pais são mais do que modelos durante boa parte da vida de seu filho, são os seus verdadeiros ídolos e ensinam mais pelo exemplo do que de qualquer outra maneira. Se você chega do trabalho estressado, tudo deu errado naquele dia, os negócios não se concretizaram, você chegou atrasado para a consulta médica e não foi atendido, não viu que o farol fechou e bateu na traseira do carro da frente… ok, realmente foi um dia difícil, mas, se permitir devorar guloseimas em nome de tudo isto é o pior comportamento que se pode ter, para si mesmo e para os que estão aprendendo com você.

O último alerta é: JAMAIS se valha de um chocolate para parabenizar um bom desempenho do seu filho na escola. O alimento é a primeira moeda de troca que temos na vida seja pelo excesso ou pela privação… basta lembrar de alguma experiência em que o desespero de uma mãe fica evidente diante de um filho que se recusa a comer. Naquele momento, ele consegue tudo ou quase tudo o que quiser de sua mãe. Não é? Vale tudo para ter a certeza que o seu filho está bem alimentado e que você não é uma “péssima mãe”.

Alimento deve estar relacionado a necessidade básica de sobrevivência e, também, ao prazer. De forma alguma, pode ser prêmio de consolação ou recompensa. Pensem nisto!!!

Referência do estudo:

Pearson, CM, Combs, JL, Zapolski, TCB, & Smith, GT (2012). Um modelo de risco longitudinal transacional para o início precoce transtorno alimentar. Journal of Abnormal Psychology. Avance publicação online. doi: 10.1037/a0027567

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