Anorexia Nervosa

ALERTA
A Anorexia Nervosa corresponde a maior taxa de mortalidade entre as doenças psiquiátricas, de 6 a 15%. Diante do alerta, a maior preocupação deve ser “como” erradicar a doença e não “por que” ela se desenvolveu. É preciso agir rápido!

INÍCIO
O desenvolvimento da anorexia nervosa é mais comum no sexo feminino (9 mulheres afetadas para cada homem), e no início da adolescência, por volta de 13, 14 anos. Mas, é possível que aconteça de forma mais precoce, em crianças de 08 a 11 anos. Normalmente começa com uma dieta devido a alguns fatores desencadeantes como: provocações em relação ao peso, amigas de regime, pais em dieta, início da menstruação, mudança de escola ou série, início de namoro, doença de um dos pais, entre outros.

Os pais, por sua vez, tendem a acreditar que problemas com a alimentação são transitórios e universais entre as crianças; e que o interesse na aparência, preocupação com peso e dietas são comuns na adolescência, o que acaba por colaborar com o desenvolvimento da doença e prorrogar o tratamento.

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
– Alterações do pensamento: pavor de engordar, distorção da imagem corporal, negação do risco da doença
– Baixo peso corporal (IMC menor ou igual a 17,5 e/ou menos de 85% do peso esperado para idade e altura)
– Amenorréia nas meninas (3 meses consecutivos) / perda da libido em meninos

Temos dois tipos de anorexia: uma que denominamos de restritiva, ou seja, a pessoa começa a radicalizar e cortar praticamente todos os tipos de alimentos calóricos e outra que denominamos de bulímica, onde ela busca o emagrecimento através de vômitos provocados, uso e abuso de laxativos e diuréticos.

DESENVOLVIMENTO
As dietas têm início de maneira informal, inicialmente corta-se a sobremesa e o lanche, depois a carne vermelha, em seguida as outras proteínas, gorduras e açucares. Após a dieta ter se tornado extremamente restrita, o foco passa a ser a diminuição da quantidade.

Alguns comportamentos tornam-se hábitos: contagem de calorias, medições exatas de quantidade ingerida, preparação elaborada dos alimentos, o ato de se alimentar sem a presença de outras pessoas, elaboração de sobremesas para os outros sem consumo próprio, visitas aos supermercados e padarias apenas para olhar e sentir o cheiro dos alimentos, rituais “estranhos” como se alimentar apenas em certos pratos e tigelas, cortar os alimentos em pedaços bem pequenos, medir e pesar os mesmos com precisão.

Neste momento a prática de exercícios iniciada com o discurso da busca por uma vida mais saudável muda de objetivo. A preocupação é uma agenda pesada de exercícios para garantir a perda contínua de peso.

ADOLESCÊNCIA + ANOREXIA
Duas caracterítsticas marcantes da adolescência colaboram de forma decisiva para o agravamento da doença: busca por independência e desejo da privacidade.
A necessidade de controle é uma das principais características da anorexia. Soma-se a este fator a luta pela independência do adolescente, que busca decidir algo por si só a qualquer custo, mesmo que seja o que ele deve ou não comer. O problema é que quando um adolescente toma decisões em virtude de um transtorno alimentar, a batalha é uma “marmelada”, o transtorno vence, os pais e o adolescente perdem.

O outro fator é o poder da privacidade. A busca por momentos reservados evita a intervenção, os pais se sentem espiões ao questionar, por mais que os adolescentes deixem pistas como comida debaixo da cama, uso de roupas largas.

CAUSA MULTIFATORIAL
As causas do desenvolvimento da anorexia nervosa são multifatoriais, e como dito anteriormente, há urgência no tratamento, não é aconselhável perder tempo com questionamentos. De qualquer forma, fatores como: tendência a aparecimento do transtorno entre parentes de primeiro grau e do sexo feminino, o fato de ser de 3 a 5 vezes mais comum em famílias com antecedentes da doença, maior risco em gêmeos, entre outros, nos traz a idéia de um fator biológico importante.
A Psicanálise sustenta a idéia de culpa e fixação oral, o “não comer” é visto como um mecanismo de defesa, uma forma de evitar pensamentos e sentimentos sexuais. De fato, há observações de que pacientes com anorexia evitam falar de sexo e lutam contra a intimidade, mas não se sabe se é um resultado da doença ou uma possível causa.

Arthur Crisp, psiquiatra londrino, enxergava a anorexia como uma não aceitação fóbica da adolescência: ansiedade das mudanças físicas, identidade mais independente e relações com seres sexualmente maduros. Assim, a perda de peso radical e o excesso de exercícios faziam as formas do corpo e o estado hormonal voltarem ao estado da pré-adolescência, e as necessidades médicas e psicológicas conduziam o indivíduo ao estado dependente de criança.
A força da mídia e ideais culturais de beleza. O culto ao corpo magro e esbelto como sinônimo de sucesso e aceitação. Tanto é que até o surgimento da televisão na década de 90 em regiões como a Ilha de Tonga (no Pacífico), a obesidade era cultuada (como no séc. XVI) e não existiam registros da presença de transtornos alimentares.

Por fim, uma última questão é de cunho feminista, e acredita na anorexia nervosa como uma “armadilha” do sexo oposto para afastar as mulheres do poder através da provocação da baixa auto-estima.

CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE + ANOREXIA
Algumas das características de personalidade mais marcantes em indivíduos com anorexia nervosa são: o perfeccionismo e a determinação. Importante ressaltar que características antes aplicadas no desempenho escolar, por exemplo, passam a serem focadas na relação do indivíduo com a comida: contagem de calorias e medidas exatas, negação da fome e perseverança na dieta radical independente do mal-estar físico. O transtorno alimentar “usa” as características do indivíduo contra ele, por isto é tão difícil o mesmo lutar sozinho contra a doença, é uma batalha travada contra ele mesmo.

CONSEQUÊNCIAS
O peso muito baixo pode gerar doenças como anemias, há diminuição na pressão arterial, alterações de sais e água no organismo, a pele se torna seca, as unhas quebradiças e queda de cabelos podem ocorrer. Na ausência de alimento, os músculos são usados como combustível gerando fraqueza, fadiga e diminuição da massa cardíaca. A falta de potássio pode levar a arritmias cardíacas, e até a morte.

TRATAMENTO
O tratamento no Brasil pode ser realizado de três formas de acordo com a gravidade: ambulatorial (não intensivo), hospital-dia/ internação parcial (semi-intensivo) ou enfermaria/ internação integral (intensivo).
A terapia familiar é de grande valia, em especial, no tratamento de crianças e adolescentes. A terapia individual apresenta resultados positivos, independente da abordagem utilizada.

O cross-over ou migração da mesma para outros transtornos alimentares como a bulimia é comum (15 a 30%), e visto como “positivo” do ponto de vista clínico. É mais fácil “dar controle” do que tirar a rigidez do mesmo.
Quanto a medicação, a mesma é mais eficaz para tratar os sintomas associados a anorexia nervosa e comorbidades como depressão, transtornos obsessivo-cumpulsivo e psicose. A Fluoxetina é bastante utilizada para evitar recaídas e a Olanzapina para a fase aguda da doença. A Olanzapina é um anti-psicótico utlizado uma vez que há a presença de distorção de imagem corporal e “vozes dizendo para não comer”.

O tratamento deve ter início o mais precocemente possível, resultado em maiores chances de sucesso, e deve-se ficar atento ao fator egossintônico do distúrbio, ou seja, o indivíduo acometido pela doença não admite a ocorrência de algo anormal no seu comportamento alimentar, ficando a responsabilidade da detecção e início de tratamento para os pais, cuidadores ou pessoas que estejam ao redor.

Fonte:
– Aulas ministradas no curso de Atualização em Transtornos Alimentares 2011 – PROATA / Unifesp
– Livro: Ajude seu filho a enfrentar os distúrbios alimentares (James Lock / Daniel Le Grange) Editora Melhoramentos, 2007

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