Símbolo de força inabalável e rigidez, o homem na nossa sociedade possui (em sua grande maioria) dificuldade em demonstrar fragilidade, pedir ajuda, ou até mesmo, em um estágio anterior, se permitir sentir-se vulnerável. Esta negação acaba por tornar crescente o sofrimento paterno silencioso.
Nem mesmo o nome “depressão pós-parto paterna” parece fazer sentido. Como o homem pode ter algo relacionado ao parir que não aconteceu com ele? Vale (e se faz necessário) ampliar o olhar aqui! O homem não fica ileso a todas as mudanças que acontecem com a mulher ao longo da gestação e, principalmente, com a chegada do bebê.
Além das transformações no seu sentido de identidade pessoal assim como acontece com as mães, existem as mudanças dos papéis sociais (de filho para pai, de casal para pais) e pesquisas na área mostram também resultados de alterações biológicas importantes. O fim da gestação e o início do pós-parto podem provocar nos homens uma diminuição do seu nível de testosterona, sendo que esses níveis podem se manter baixos por vários meses depois do parto na maioria dos pais.
O papel de provedor se torna mais intenso… afinal, já não são apenas dois adultos dividindo a vida, um ser completamente dependente entrou na jogada, e, em uma condição nada temporária. A dedicação do homem ao trabalho pode diminuir ainda mais o tempo destinado ao relacionamento pai-filho. O receio de falhar nas tarefas de provedor e apoiador emocional estão relacionados ao estresse psicológico paterno.
A fusão natural e necessária “mãe-bebe” nos primeiros meses, muitas vezes, deixa este pai à deriva, de lado… assim como a falta de experiência e o menor tempo de convivência com a criança (comparado com a mãe) podem tornar as suas interações menos interessantes para o bebê que acaba por retribuir com sorrisos e vocalizações em menor intensidade e frequência. Este pai irá precisar de muita resiliência e inteligência emocional para ir quebrando esta díade em uma velocidade saudável para todos.
Frente a privação de sono e a adaptação às demandas da nova rotina da casa, a relação conjugal é afetada, e consequentemente, a sexual. Por um bom tempo, dormir é a escolha da vez. Sem falar em todas as mudanças hormonais que estão acontecendo na mulher no pós-parto e no processo da amamentação que, biologicamente (e muito sabiamente), fazem o seu lado mãe sobrepor o lado mulher.
Caso a parceira apresente depressão pós-parto, o cenário se torna ainda mais arriscado e as chances de desenvolvimento de alguma enfermidade psiquiátrica no pai se acentuam. Ambos se deparam com um tempo de dor e confusão, a mulher pode se tornar agressiva, irritadiça, melancólica e o marido pode experimentar um sentimento de rejeição.
Os estudos indicam que transtornos psiquiátricos pós-parto paternos apresentam prevalência significativa (no Brasil variam entre 11,9 e 25,4%) e impactam diretamente no apoio que o pai dá mãe e ao bebê durante o primeiro ano pós-parto.
Vale lembrar que a depressão pós-parto, materna e paterna, implicam em menor vínculo e menor capacidade de estimulo do bebê comprometendo o seu desenvolvimento psíquico e cognitivo.
O que, mais uma vez, comprova a importância do pré-natal psicológico que previne adoecimentos psicológicos futuros nas mães e/ou antecipa a intervenção necessária em fatores de risco, contribuindo para um posterior funcionamento mais saudável da familia e vínculo pais-bebê preservados. Além de incluir o pai no processo psicoeducativo do ciclo gravídico-puerperal preparando-o também para as mudanças que estão por vir.
Do pouco que se sabe, os fatores de risco para a depressão pós-parto paterna parecem similares aos da depressão pós-parto materna. Mais estudos na área, maior conscientização e sensibilização quanto ao adoecimento psíquico paterno se fazem necessários.
Enfim, mais um estigma que precisamos vencer!