Paternidade e Depressão Pós- parto

Símbolo de força inabalável e rigidez, o homem na nossa sociedade possui (em sua grande maioria) dificuldade em demonstrar fragilidade, pedir ajuda, ou até mesmo, em um estágio anterior, se permitir sentir-se vulnerável. Esta negação acaba por tornar crescente o sofrimento paterno silencioso. 🤫

Nem mesmo o nome “depressão pós-parto paterna” parece fazer sentido. Como o homem pode ter algo relacionado ao parir que não aconteceu com ele? Vale (e se faz necessário) ampliar o olhar aqui! O homem não fica ileso a todas as mudanças que acontecem com a mulher ao longo da gestação e, principalmente, com a chegada do bebê. 🤯

Além das transformações no seu sentido de identidade pessoal assim como acontece com as mães, existem as mudanças dos papéis sociais (de filho para pai, de casal para pais) e pesquisas na área mostram também resultados de alterações biológicas importantes. O fim da gestação e o início do pós-parto podem provocar nos homens uma diminuição do seu nível de testosterona, sendo que esses níveis podem se manter baixos por vários meses depois do parto na maioria dos pais. 😮

O papel de provedor se torna mais intenso… afinal, já não são apenas dois adultos dividindo a vida, um ser completamente dependente entrou na jogada, e, em uma condição nada temporária. A dedicação do homem ao trabalho pode diminuir ainda mais o tempo destinado ao relacionamento pai-filho. O receio de falhar nas tarefas de provedor e apoiador emocional estão relacionados ao estresse psicológico paterno. 😐

A fusão natural e necessária “mãe-bebe” nos primeiros meses, muitas vezes, deixa este pai à deriva, de lado… assim como a falta de experiência e o menor tempo de convivência com a criança (comparado com a mãe) podem tornar as suas interações menos interessantes para o bebê que acaba por retribuir com sorrisos e vocalizações em menor intensidade e frequência. Este pai irá precisar de muita resiliência e inteligência emocional para ir quebrando esta díade em uma velocidade saudável para todos. ⏳

Frente a privação de sono e a adaptação às demandas da nova rotina da casa, a relação conjugal é afetada, e consequentemente, a sexual. Por um bom tempo, dormir é a escolha da vez. Sem falar em todas as mudanças hormonais que estão acontecendo na mulher no pós-parto e no processo da amamentação que, biologicamente (e muito sabiamente), fazem o seu lado mãe sobrepor o lado mulher. 🤱🏼

Caso a parceira apresente depressão pós-parto, o cenário se torna ainda mais arriscado e as chances de desenvolvimento de alguma enfermidade psiquiátrica no pai se acentuam. Ambos se deparam com um tempo de dor e confusão, a mulher pode se tornar agressiva, irritadiça, melancólica e o marido pode experimentar um sentimento de rejeição. 🤷‍♀️🤷🏻‍♂️

Os estudos indicam que transtornos psiquiátricos pós-parto paternos apresentam prevalência significativa (no Brasil variam entre 11,9 e 25,4%) e impactam diretamente no apoio que o pai dá mãe e ao bebê durante o primeiro ano pós-parto. 🔴

Vale lembrar que a depressão pós-parto, materna e paterna, implicam em menor vínculo e menor capacidade de estimulo do bebê comprometendo o seu desenvolvimento psíquico e cognitivo. ‼️

O que, mais uma vez, comprova a importância do pré-natal psicológico que previne adoecimentos psicológicos futuros nas mães e/ou antecipa a intervenção necessária em fatores de risco, contribuindo para um posterior funcionamento mais saudável da familia e vínculo pais-bebê preservados. Além de incluir o pai no processo psicoeducativo do ciclo gravídico-puerperal preparando-o também para as mudanças que estão por vir. 🐛🦋

Do pouco que se sabe, os fatores de risco para a depressão pós-parto paterna parecem similares aos da depressão pós-parto materna. Mais estudos na área, maior conscientização e sensibilização quanto ao adoecimento psíquico paterno se fazem necessários.

Enfim, mais um estigma que precisamos vencer! 🤜🤛

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